Quais as consequências de tais atitudes em nome da prevenção contra a pandemia? Que destino terão os passageiros que só queriam voltar para casa?

Um ônibus da empresa de transporte interestadual Transbrasil, com passageiros oriundos do estado do Goiás, foi obrigado a voltar para o município de origem, após tentar entrar nas cidades de Santa Maria da Vitória e Bom Jesus da Lapa.  De acordo o prefeito de Santa Maria da Vitória, o veículo foi interceptado no início da manhã, na BR-349, ao tentar entrar pelo município usando uma liminar da justiça, desrespeitando um Decreto Municipal. O ônibus foi barrado, o motorista e todos os passageiros tiveram suas temperaturas aferidas e foram encaminhados à delegacia, onde as devidas providências foram tomadas e depois liberado para seguir viagem.

Partindo em direção a cidade de Bom Jesus da Lapa, o veículo foi novamente abordado, dessa vez por uma guarnição da Polícia Militar da 38ª CIPM, com o apoio da Guarda Municipal Lapense na entrada da Agrovila 20, município de Serra do Ramalho. A ação foi divulgada pelo prefeito Eures Ribeiro, que afirmou seguir a determinações, ordenando o retorno do ônibus com todos os ocupantes a bordo, escoltados para o estado de origem. Eures destacou ainda, que os passageiros tinham como destino a cidade de Bom Jesus da Lapa, além de Riacho de Santana e Caetité. Alegando estarem pautados nos decretos, ambos os prefeitos afirmaram, a proibição de circulação e saída de qualquer transporte coletivo intermunicipal.

Difícil missão para os prefeitos, que pressionados por moradores, tomaram uma decisão radical, independente de constatarem qualquer tipo de ameaça aparente, uma vez que ninguém a bordo apresentava sintomas. O jornal O Eco vem abordando esse fenômeno há meses, desde o início da pandemia, sempre buscando olhar o problema com mais humanidade, apontando alternativas como a reserva de hotéis ou ambientes adequados, para que os filhos da terra que nesse momento complicado, passa por todo tipo de humilhação lá fora, possam ser acolhidos, pois só desejam voltar pra casa. Independente de fiscalização, diversas matérias da imprensa baiana, dão conta de que essas pessoas estão retornando, mesmo que clandestinamente.

Conscientes de que todos os procedimentos adotados para a prevenção estão corretos, uma vez que a população não pode sofrer ameaça de contaminação dos que vem de fora, ressaltamos mais uma vez que precisa existir um plano de ação para enfrentar esse dilema, que deveria ter sido previsto desde o início. A solução nesse momento, seria monitorar, assegurar dignidade aos trabalhadores que retornam, fazendo-os passarem pelos procedimentos médicos, testes rápidos e a quarentena obrigatória em local específico, isolado da população. Usar de autoritarismo e demagogia, com o intuito de afugentar conterrâneos tão humilhados lá fora que fogem da fome e do vírus, não lhes renderá votos, muito menos impedirá que as pessoas venham de carro e até a pé.

As medidas restritivas devem ser ampliadas, as equipes devem seguir fiscalizando cada caso suspeito com postura digna e coerente diante de tamanho mal, mantendo o isolamento social, proibindo o transporte coletivo municipal, além do fechamento do comércio não essencial, exigir o uso de máscaras nas ruas, entre outras tantas medidas inclusive assistenciais. Quanto à chegada de pessoas comprovadamente nascidas ou moradoras do lugar, é necessário um plano de contingência, que acolha, investigue origem, determinando isolamento social e monitoramento médico antes do retorno para as famílias, essa é a única forma digna e segura de evitar a proliferação do contágio.