Ficou provado o abandono total e a falta de um plano de segurança nos reservatórios

Infelizmente, uma tragédia de grandes proporções, com inundações em pelo menos duas cidades, isolamento total de diversos povoados da área rural, famílias desabrigadas, prejuízos financeiros e emocionais incalculáveis ocorreram na região nordeste da Bahia, devido ao rompimento de uma barragem, que de acordo com as primeiras informações, assim como todos os demais reservatórios espalhados pelo interior, não recebia manutenção e cuidados necessários. Portanto, não se trata de um acidente e sim de uma tragédia anunciada. Irresponsabilidade dos órgãos fiscalizadores, inércia dos Comitês de Bacias, da ANA e do próprio governo do estado, que deverão ser responsabilizados pelos danos causados.

Evidente que ocorreu um fenômeno atípico, com muita chuva, elevação do nível e consequente transbordamento da barragem. No entanto, isso não justifica o rompimento, afinal, um reservatório de grande porte, deve estar estruturado para eventuais cheias e transbordamentos, sem que isso comprometa a construção. Muitas vidas foram postas em risco, cerca de 350 pessoas desabrigadas, desabamentos de residências, enfim, tudo isso poderia ter sido evitado, se existisse a manutenção periódica, relatórios de alerta e acima de tudo, um plano de segurança, cujo aparato fosse capaz de prevenir tragédias, com evacuações seguras e uma fiscalização contínua.

O rompimento da barragem em Coronel João Sá, teve repercussão nacional, dando conta dos prejuízos causados às famílias carentes de um pequeno município, pessoas que perderam o pouco que tinham. O fato acendeu o alerta para o estado de conservação e para a segurança desses reservatórios em todo o estado, inclusive das Barragens Luís Vieira em Rio de Contas e Zabumbão em Paramirim, reservatórios de maior porte, que se localizam em pontos elevados e possuem deficiências graves já detectadas pelos órgãos. Trata-se de barragens de captação de água para abastecimento da população, que acumulam milhões de metros cúbicos, sendo que nenhuma delas possui plano de segurança.

Apesar de não estarmos mais no período chuvoso, o clima de incertezas pluviométricas, cujas previsões mudam a cada dia, preocupam a todos. O ocorrido lá no nordeste da Bahia, deve ser levado em conta, para que se exija os reparos e intervenções que inclusive já estavam previstas e até o momento, nada mais se ouve falar. Não é exagero voltar ao assunto, alertando para o total abandono da Barragem do Zabumbão que abastece diversas cidades do Vale, uma mega construção, que vive abandonada, oferecendo risco aos que acessam o local, bem como a população regional. Há informações de que, os equipamentos distribuídos no perímetro da obra, sismógrafos, sensores e até a residência construída na encosta para o gerenciamento e fiscalização, estão inoperantes.

, O jornal O Eco, volta a conclamar a população para que se discuta um plano de segurança composto de estratégias e ações de emergência, com previsão de alarmes e outros dispositivos em casos extremos e riscos de rompimento. Faz-se necessária ainda, a contratação de empresa para vistoriar as construções e aquisição ou reparo dos equipamentos para monitoramento. Além disso, é importante a presença constante de profissionais para compor a seção de engenharia de barragens.

Vale ressaltar, que toda a barragem tem algum grau de risco de rompimento. Por isso, precisam ser feitas inspeções visuais, monitoramento por equipamentos e limpeza na parte jusante (abaixo da contenção), para ver o quanto de água está sendo drenado. É preciso verificar se essa drenagem está funcionando, se a vazão tem aumentado e se está saindo somente água limpa… Esse tipo de verificação é feita para ver se a barragem está estável. No caso do Zabumbão, por ser muito central, dentro da área urbana, ela tem grau de risco maior, o que os técnicos chamam de dano potencial associado, que é o dano que ela pode provocar se vier a romper. Quanto mais centralizada, maiores serão os danos e as potenciais perdas de vidas que poderão ocorrer.

A maioria das barragens da Bahia têm como finalidade a irrigação e a retenção de água para animais, além, é claro, do abastecimento da população. Os órgãos responsáveis por fiscalizarem se a autarquia CODEVASF está mantendo as barragens em condições, são as Secretarias de Meio Ambiente/Recursos Hídricos do Estado. A Agência Nacional de Águas (ANA) é o agente fiscalizador nos sistemas de domínio da União, mas também é a ANA que concentra as informações repassadas pelos outros órgãos fiscalizadores nos Estados.